Neste capítulo vamos trazer uma abordagem sobre os principais problemas que acometem os anexos cutâneos, como queda de cabelo, unhas quebradiças, micoses, entre outros.
Os anexos cutâneos são estruturas dinâmicas e o seu bom funcionamento está intimamente relacionado com a fisiologia da pele e com a manutenção da homeostase corporal, ou seja, ao processo de regulação que mantém o organismo em constante equilíbrio. Alterações nos anexos cutâneos podem estar relacionadas a diversas doenças de pele e condições sistêmicas.
Nesse contexto, entende-se que a pele e seus anexos estão sujeitos a diversos problemas, que podem ser causados por fatores internos (genéticos, hormonais) ou externos (agentes físicos, químicos, biológicos). Alguns dos problemas mais comuns incluem:
Acne: Inflamação das glândulas sebáceas, geralmente causada por alterações hormonais e obstrução dos poros.
Eczema: Inflamação crônica da pele, caracterizada por vermelhidão, coceira e descamação.
Psoríase: Doença crônica da pele que causa manchas vermelhas e escamosas.
Dermatite: Inflamação da pele causada por contato com substâncias irritantes ou alérgenos.
Micose: Infecção fúngica da pele, unhas ou couro cabeludo.
Queda de cabelo: Pode ser causada por diversos fatores, como genética, estresse, deficiências nutricionais e doenças.
Unhas quebradiças e fracas: Podem ser causadas por fatores internos (doenças, deficiências nutricionais) ou externos (uso excessivo de produtos químicos, trauma).
Figura – Disnfunções Estéticas
Fonte: Prosa com Nath Souza
É importante lembrar que é comum haver certa confusão entre os termos disfunção, distúrbio e patologia, especialmente quando se referem a órgãos ou sistemas específicos como os anexos cutâneos. Embora estejam relacionados, cada termo carrega nuances e conotações distintas. A disfunção indica um funcionamento anormal ou inadequado de um órgão ou sistema, geralmente menos grave, podendo ser temporária ou reversível, a exemplo de uma disfunção nas glândulas sebáceas que pode levar a uma oleosidade excessiva da pele, mas não necessariamente a uma doença, podem envolver alterações na produção de sebo, suor, crescimento de pelos e unhas. Já o distúrbio indica uma alteração no estado de saúde, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas. Mais abrangente que a disfunção, pode incluir tanto alterações físicas quanto psicológicas. Um distúrbio, por exemplo, da queratinização pode levar a diversas condições, como a psoríase, a alopecia, as unhas encravadas e as micoses. Por outro lado, patologia refere-se a uma doença, ou seja, um processo patológico que altera o funcionamento normal de um órgão ou sistema. Este é um termo mais técnico e formal, geralmente utilizado em contextos médicos. A alopecia areata, por exemplo, é uma patologia que causa a queda de cabelo em áreas específicas do couro cabeludo, n o geral, englobam doenças mais graves, como o câncer de pele e as doenças autoimunes que afetam os anexos cutâneos.
A compreensão das diferenças entre disfunções, distúrbios e patologias é fundamental para uma comunicação clara e precisa sobre os problemas de saúde relacionados aos anexos cutâneos e da compreensão da melhor técnica para trata-los.
O quadro abaixo resume, de forma bem didática, para um melhor entendimento, a diferença entre os termos.
Termo
Significado
Conotação
Exemplo
Disfunção
Funcionamento anormal
Menos grave, reversível
Oleosidade excessiva
Distúrbio
Alteração no estado de saúde
Mais abrangente
Psoriase
Patologia
Doença
Mais técnico, formal
Alopecia areata
É importante, ainda, ressaltar que os termos podem se sobrepor em alguns casos. Por exemplo, um distúrbio pode ser causado por uma disfunção, a gravidade da condição pode variar de um caso para outro, independentemente do termo utilizado e que o diagnóstico preciso de uma disfunção, distúrbio ou patologia é fundamental para o tratamento adequado.
A seguir, mais detalhes das diferentes disfunções, distúrbios e patologias nos diferentes anexos cutâneos
As disfunções nos pelos geralmente se referem a alterações funcionais do folículo piloso, ou seja, problemas no funcionamento normal do pelo. Elas podem ser causadas por fatores genéticos, hormonais, nutricionais ou ambientais. Como, por exemplo:
Disfunção das glândulas sebáceas: Pode levar a cabelos secos ou oleosos.
Disfunção na produção de melanina: Causa alterações na cor dos pelos.
Disfunção no ciclo de crescimento: Afeta a fase de crescimento e repouso dos pelos, podendo levar à queda capilar.
Por outro lado, os pelos, como parte dos anexos cutâneos, podem apresentar diversas distúrbios que englobam um espectro mais amplo de condições, incluindo as disfunções, mas também doenças que acometem os pelos e o couro cabeludo
Figura – Alopécia
Fonte: Dr. Tiago Silveira
Alopecia: Queda de cabelo, podendo ser localizada (alopecia areata) ou difusa (calvície).
Hirsutismo: Crescimento excessivo de pelos em áreas típicas do sexo masculino, em mulheres.
Hipotricose: Crescimento reduzido de pelos em todo o corpo ou em áreas específicas.
Distúrbios da textura: Cabelo seco, quebradiço, oleoso, crespo.
Distúrbios da cor: Canície precoce, vitiligo.
Distúrbios da distribuição: Pelos encravados, tricotilomania (hábito de arrancar os cabelos).
Infecções do couro cabeludo: Pitiríase versicolor, tinea capitis.
Os distúrbios nos pelos podem se manifestar de diversas formas, incluindo:
Queda de cabelo: Pode ser gradual ou repentina, localizada ou difusa.
Coceira: Sensação de prurido no couro cabeludo.
Vermelhidão: Inflamação do couro cabeludo.
Caspa: Descamação do couro cabeludo.
Quebra dos fios: Fragilidade capilar.
Alterações na cor: Aumento ou diminuição da pigmentação.
Dor: Em alguns casos, pode haver dor no couro cabeludo.
As unhas, como anexos cutâneos, são formadas por células queratinizadas e podem sofrer diversas alterações que se manifestam como disfunções, distúrbios ou patologias. Essas condições podem afetar a aparência, a saúde e a função das unhas, causando incômodo e, em alguns casos, indicando problemas de saúde mais graves.
Causas das Alterações nas Unhas
Infecções: Fúngicas (micoses), bacterianas ou virais.
Doenças sistêmicas: Diabetes, doenças da tireoide, psoríase, lúpus.
Deficiências nutricionais: Falta de vitaminas e minerais.
Traumatismos: Batidas, mordidas, uso excessivo de produtos químicos.
Medicamentos: Alguns medicamentos podem causar alterações nas unhas.
Doenças das unhas: Onicomicose, psoríase ungueal, líquen plano ungueal.
Hábito de roer as unhas: Onicofagia.
Tipos de Alterações nas Unhas
Alterações na cor:
Unhas amareladas: Podem indicar infecção fúngica, psoríase ou uso excessivo de esmalte.
Unhas brancas: Podem ser causadas por deficiência de zinco ou albumina.
Linhas de Mees: Linhas brancas transversais nas unhas, relacionadas a doenças sistêmicas.
Unhas azuladas: Podem indicar problemas circulatórios ou doenças cardíacas.
Alterações na forma:
Unhas em colher: Unhas côncavas, podem indicar anemia ferropriva.
Unhas clubbing: Unhas arredondadas e espessas, associadas a doenças pulmonares crônicas.
Unhas estriadas: Linhas longitudinais, podem ocorrer com o envelhecimento ou por trauma.
Alterações na textura:
Unhas quebradiças: Podem ser causadas por uso excessivo de água e produtos químicos, ou por deficiências nutricionais.
Unhas espessas: Associadas a infecções fúngicas ou psoríase.
Outras alterações:
Onicomicose: Infecção fúngica da unha.
Onicólise: Separação da lâmina ungueal (a parte visível da unha) do leito ungueal (a pele por baixo da unha). Isso resulta em um espaço entre a unha e a pele, que pode ser preenchido por ar ou detritos. A onicólise pode ocorrer em uma ou mais unhas e pode afetar tanto as mãos quanto os pés.
Paroníquia: Inflamação da pele ao redor da unha.
Psoríase ungueal: Acometimento das unhas pela psoríase.
Líquen plano ungueal: Doença autoimune que afeta as unhas.
Figura - Onicólise
Fonte: Tua saúde
São pequenas glândulas que produzem sebo, uma substância oleosa que ajuda a lubrificar a pele e os cabelos. Quando essas glândulas funcionam de forma inadequada, podem surgir diversos problemas de pele.
Uma das condições mais comuns, a acne ocorre quando os poros da pele se obstruem com sebo e células mortas. Bactérias presentes na pele podem causar inflamação, resultando em espinhas, cravos e outros tipos de lesões.
Imagem – Acne vulgar
Fonte: Lecturio
. A hiperplasia sebácea é uma condição cutânea benigna caracterizada pelo aumento das glândulas sebáceas, responsáveis pela produção de sebo, uma substância oleosa que lubrifica a pele. Esse aumento glandular resulta em pequenas pápulas amareladas ou da mesma cor da pele, geralmente encontradas no rosto, especialmente em pessoas idosas. A causa exata da hiperplasia sebácea ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que a ação dos hormônios androgênicos tenha um papel importante. Com a diminuição desses hormônios, o amadurecimento das células das glândulas sebáceas é alterado, levando ao aumento de seu tamanho. Em muitos casos, o tratamento da hiperplasia sebácea não é necessário, pois as lesões são benignas e não causam problemas de saúde. No entanto, se as lesões forem consideradas esteticamente desagradáveis, algumas opções de tratamento podem ser consideradas:
Crioterapia: Utilização de nitrogênio líquido para destruir as lesões.
Cauterização: Utilização de eletrocautério para destruir as lesões.
Laser: Remoção das lesões através da aplicação de laser.
Excisão cirúrgica: Remoção das lesões através de um pequeno corte na pele.
Figura – Hiperplasia sebácea
Fonte: Dermapixel
Já os cistos sebáceos são bolsas cheias de sebo que se formam sob a pele. Geralmente são indolores, mas podem inflamar e causar desconforto. É um pequeno caroço que se forma sob a pele, geralmente arredondado e macio ao toque. Ele ocorre devido ao bloqueio de uma glândula sebácea, fazendo com que o sebo (substância oleosa produzida pela pele) se acumule, formando uma pequena bolsa
Figura – Cisto sebáceo
Fonte: Claudio Lemos
Vale ainda comentar sobre o carcinoma de células sebáceas. Este é um tipo de câncer de pele que se desenvolve a partir das glândulas sebáceas, responsáveis pela produção de óleo na pele. Embora seja um tipo raro de câncer, é importante conhecê-lo. A causa exata do carcinoma de células sebáceas ainda não é completamente compreendida, mas alguns fatores de risco estão associados a ele:
Idade: É mais comum em pessoas idosas.
Exposição ao sol: A radiação ultravioleta pode desempenhar um papel no desenvolvimento desse tipo de câncer.
Imunossupressão: Pessoas com sistema imunológico enfraquecido, como aqueles que fazem transplantes ou usam medicamentos imunossupressores, têm maior risco.
Síndrome de Muir-Torre: Uma doença genética rara associada ao desenvolvimento de carcinoma de células sebáceas e outros tipos de câncer.
O carcinoma de células sebáceas geralmente se manifesta como um nódulo ou pápula na pele, que pode ser:
Vermelho ou rosado
Ceroso ou brilhante
Com escamas ou crostas
Indolor
Os locais mais comuns para o aparecimento desse tipo de câncer são:
Pálpebras: É o local mais comum, podendo causar inchaço, vermelhidão e perda de cílios.
Rosto: Testa, nariz, bochechas e queixo.
Couro cabeludo
Tronco
Genitais
É importante ressaltar que nem todos os nódulos ou lesões na pele são cancerígenos. Apenas um dermatologista pode fazer um diagnóstico preciso. O diagnóstico do carcinoma de células sebáceas é feito através da biópsia da lesão. Um pequeno pedaço da lesão é removido e examinado em um laboratório para confirmar a presença de células cancerígenas.
As glândulas sudoríparas desempenham um papel fundamental na regulação da temperatura corporal. Quando essas glândulas não funcionam corretamente, podem surgir diversos distúrbios que impactam significativamente a qualidade de vida.
Conforme já mencionado neste material, existem dois tipos principais de glândulas sudoríparas:
Écrinas: Presentes em todo o corpo, produzem suor aquoso e transparente, cuja principal função é a termorregulação.
Apócrinas: Concentradas em áreas como axilas, virilhas e couro cabeludo, produzem um suor mais espesso e rico em proteínas, que se torna odorífero ao entrar em contato com as bactérias da pele.
Dentre os distúrbios mais comuns que existem neste anexo, podemos citar: A hiperidrose caracterizada por sudorese excessiva, podendo afetar todo o corpo ou áreas específicas (palmas das mãos, plantas dos pés, axilas). Dentre as causas principais estão fatores genéticos, emocionais, hormonais, medicamentos, doenças neurológicas; Bromidrose caracterizada por odor corporal desagradável causado pela decomposição bacteriana do suor. A bromidose é consequência de bactérias presentes na pele, dieta rica em alimentos com forte odor e má higiene; a hidradenite supurativa é uma infecção crônica das glândulas apócrinas, caracterizada por nódulos dolorosos e abscessos, causada por bactérias, fatores hormonais e genética; a anidrose é a ausência total ou parcial de suor e é causada por doenças neurológicas distúrbios gustativos que é a sudorese excessiva após a ingestão de determinados alimentos. As causas, no entanto, são desconhecidas, mas podem estar relacionadas a distúrbios neurológicos.
ATA têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver outras doenças
autoimunes, como:
Tireoidite de Hashimoto: Uma doença autoimune da tireoide.
Diabetes tipo 1: Uma doença autoimune que afeta a produção de insulina.
Vitiligo: Outra doença autoimune da pele caracterizada pela perda de pigmentação.
Artrites reumatoides: Doença inflamatória crônica que afeta as articulações.
Mas por que esta associação?
Acredita-se que essa associação esteja relacionada a uma disfunção generalizada do sistema imunológico. Indivíduos com alopecia areata podem ter uma predisposição genética que os torna mais suscetíveis a desenvolver outros distúrbios autoimunes. Além disso, a inflamação crônica associada à alopecia areata pode desencadear respostas autoimunes em outros órgãos e tecidos.
Estudos sobre a relação entre alopecia areata e outras doenças autoimunes podem levar a novas descobertas sobre a etiologia e o tratamento de ambas as condições.
Em resumo, a alopecia areata não é apenas uma condição que afeta os cabelos, mas pode ser um sinal de uma disfunção mais ampla do sistema imunológico. Essa relação complexa entre a alopecia areata e outras doenças autoimunes continua sendo objeto de pesquisa e abre novas perspectivas para o tratamento e acompanhamento desses pacientes.
Aqui estão algumas dicas e recursos úteis para que você possa se aprofundar mais neste universo das patologias, distúrbios e disfunções em anexos cutâneos:
Sites e portais confiáveis:
Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD): O site oficial da SBD oferece informações atualizadas sobre diversas doenças de pele, incluindo as que acometem os anexos cutâneos. Você encontrará artigos, notícias e orientações para pacientes.
PubMed: Uma das maiores bases de dados de artigos científicos do mundo. Nele, você pode encontrar estudos e pesquisas sobre diversas patologias dos anexos cutâneos.
SciELO: Plataforma brasileira de periódicos científicos eletrônicos, com acesso gratuito a muitos artigos sobre dermatologia.
Livros e publicações
Manuais de dermatologia: Obras como o "Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine" e o "Andrews' Diseases of the Skin" são referências clássicas para dermatologistas e estudantes da área.
Revistas científicas: Publicações como a "Anais Brasileiros de Dermatologia" e o "Journal of the American Academy of Dermatology" trazem artigos atualizados sobre as últimas pesquisas e avanços no tratamento das doenças dos anexos cutâneos.
Bons estudos!